Metrô do Recife deve ser privatizado até 2026 e nova gestão deve começar em 2027; veja cronograma

Governos federal e estadual apostam na privatização do serviço para tentar resolver problemas crônicos.

Um meio de transporte essencial para milhares de pessoas no Grande Recife, mas que se tornou sinônimo de transtorno. O metrô, que deveria oferecer agilidade, opera com um sistema complexo e repleto de falhas que se arrastam por anos. Agora, os governos federal e estadual apostam na privatização do serviço para tentar resolver esses problemas crônicos.

Conforme consta no projeto da concessão, o leilão para concessão do serviço à iniciativa privada deve ser realizado até 2026, e a nova gestão deve começar em 2027. A autorização para que o processo de concessão comece foi publicada no Diário Oficial da União neste mês, e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) será o responsável por conduzir todo o trâmite.

Confira, abaixo, o cronograma:

  • Realização de estudos técnicos e consulta pública: 3º trimestre de 2025;
  • Aprovação dos órgãos de controle: 2º trimestre de 2026;
  • Publicação do edital: 2º trimestre de 2026;
  • Leilão: 4º trimestre de 2026;
  • Formalização do contrato: 1º trimestre de 2027.

Por meio de nota, o governo do estado disse que, desde 2023, “tem colocado ao governo federal a urgência e relevância de realização de investimentos no metrô do Recife”, tendo, inclusive, solicitado recursos no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

“No atual momento, o estado está acompanhando e discutindo a conclusão desses estudos e do modelo proposto, bem como as condições para celebração de acordo de cooperação técnica com a União, com acompanhamento do BNDES, que discipline, dentre outros temas, a responsabilidade de cada parte na futura concessão e as regras relacionadas aos bens do metrô do Recife, buscando o modelo que melhor atenda aos usuários dos serviços”, informou o governo.

Problemas antigos

Quem usa o metrô diariamente conhece bem os desafios. Severina Pereira, que trabalha com serviços gerais e utiliza o sistema para chegar em casa em Jaboatão, na Região Metropolitana, convive com as dificuldades.

“Superlotação agonia, empurra-empurra, eu via gente se machucando, caindo. E eu disse, não dá para mim não, parei de vir de metrô para o trabalho, mas tenho que voltar nele, porque é a melhor opção para chegar em casa logo cedo”, contou.

A empresa vencedora da concessão assumirá a gestão de um sistema com 37 estações que atendem uma média diária de 137 mil passageiros. A estrutura do metrô do Recife é dividida em:

  • Linha Centro: sai do Centro do Recife, vai até Coqueiral e se divide em dois ramais para Jaboatão e Camaragibe.
  • Linha Sul: Completa o sistema, ligando a Estação Cajueiro Seco à Estação Recife.
  • Linhas a diesel: compostas por veículos leves sobre trilhos (VLTs), vão até o Cabo de Santo Agostinho, partindo da Estação Curado, na Linha Centro, e da Estação Cajueiro Seco, na Linha Sul.

Os principais problemas estão diretamente ligados a falhas na rede aérea. Nos últimos dois anos, foram registradas pelo menos 18 paralisações. Recentemente, um trem da Linha Centro parou entre as estações Tejipió e Barro, na Zona Oeste do Recife, obrigando os passageiros a caminharem pelos trilhos. Além das interrupções, vagões lotados e o calor excessivo são queixas constantes dos usuários do sistema, criado em 1983.

A discussão sobre a concessão do metrô do Recife não é recente. O projeto está em pauta desde 2019, ainda na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em 2024, já sob o comando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governo federal incluiu o projeto no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD), também já defendeu publicamente a medida, mostrando um alinhamento político em torno da iniciativa, mesmo entre diferentes espectros ideológicos.

No entanto, a proposta encontra resistência. O Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (Sindmetro/PE) é contra a concessão, alegando preocupação com a continuidade dos quase 1.500 funcionários concursados.

“É importante que garanta esses empregos. Como é a garantia desses empregos? É fazendo a movimentação para outros órgãos, caso ele seja concedido. A nossa grande bandeira é a não privatização do Metrô do Recife, que a gente defende, recursos para investimento para que a gente possa ter um metrô de qualidade para atender bem a população”, afirmou.

A concessão, para ser efetivada, depende de um acordo entre o estado, a União e o BNDES, e não há um prazo definido para que isso aconteça. Para Maurício Pina, professor e doutor em engenharia de transportes, o sistema de trens urbanos necessita de investimentos urgentes, independentemente da concessão

“[É preciso] manutenção tanto dos veículos como da via permanente, que são exatamente o conjunto dos lastros e trilhos. Existem vários trechos que têm a necessidade de substituição de trilhos, que estão muito desgastados”, explicou.

Texto: Ivan Duarte, TV Globo

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