
O papa Francisco anunciou, nesta quarta-feira (18), a canonização de 16 freiras carmelitas descalças de Compiègne, que enfrentaram a morte durante o Reinado do Terror na Revolução Francesa. O ato foi realizado por meio do procedimento de canonização equipollent (equivalente), uma prática incomum que reconhece oficialmente a veneração de longa data e a virtude heroica dos santos.
As mártires, lideradas por madre Teresa de Santo Agostinho, foram executadas na guilhotina em Paris no dia 17 de julho de 1794. Caminhando para o cadafalso, elas cantaram hinos como Miserere, Salve Regina e Veni Creator Spiritus, demonstrando fé inabalável. Madre Teresa foi a última a ser executada, entoando cânticos até o momento final.
Essas freiras foram condenadas por resistirem à proibição de práticas religiosas, imposta durante a Revolução Francesa. Mesmo expulsas de seu mosteiro em 1792 e forçadas a viver clandestinamente, mantiveram suas práticas espirituais e fizeram um voto coletivo de oferecer suas vidas pela Igreja e pelo fim da revolução. Pouco após o martírio delas, Maximilien Robespierre, um dos principais líderes do período, foi executado, encerrando o Reinado do Terror.
Os corpos das mártires foram enterrados em uma vala comum no cemitério de Picpus, em Paris, onde uma lápide homenageia seu sacrifício. Sua história inspirou obras como Diálogo das Carmelitas, do escritor Georges Bernanos, posteriormente transformada em ópera por Francis Poulenc.
A canonização equipollent dispensa a cerimônia tradicional, mas mantém rigorosos critérios, como a comprovação de virtude heroica e a fama de milagres associados aos santos. Este processo raro também foi utilizado por Francisco para santos como Pedro Fabro e Margarida de Costello, e por pontífices anteriores, como Bento XVI, com Hildegarda de Bingen.
Outras causas reconhecidas
Além das mártires de Compiègne, o papa Francisco aprovou a beatificação de dois mártires do século XX. O arcebispo Eduardo Profittlich, torturado e morto em uma prisão soviética em 1942 por sua fidelidade aos fiéis da Estônia, e o padre salesiano Elia Comini, executado em 1944 pelos nazistas por sua ajuda humanitária no norte da Itália.
O papa também declarou “veneráveis” três servos de Deus: o arcebispo húngaro Áron Márton, que defendeu a liberdade religiosa sob os regimes nazista e comunista; o padre italiano Giuseppe Maria Leone, conhecido por seu trabalho pastoral e espiritual no século XIX; e o leigo francês Pietro Goursat, fundador da Comunidade Emmanuel, dedicada à evangelização.
A festa das mártires de Compiègne continuará a ser celebrada em 17 de julho, homenageando o dia de seu martírio e reforçando sua memória como exemplos de fé e coragem.