Governo da Nicarágua expulsa padre após prisão; repressão à Igreja Católica preocupa líderes religiosos

O governo da Nicarágua deportou o padre Floriano Ceferino Vargas, da diocese de Bluefields, para o Panamá, segundo informações de Medardo Mairena, ex-líder camponês atualmente no exílio. Mairena, por meio da rede social X, afirmou que o pároco da Igreja de San Martín de Porres, em Nueva Guinea, foi vítima do regime liderado pelo presidente Daniel Ortega e sua esposa, Rosario Murillo.

O casal Ortega-Murillo governa a Nicarágua como copresidentes desde uma reforma constitucional, consolidando um controle político que soma mais de três décadas desde a Revolução Sandinista em 1979.

Perseguição religiosa

A prisão e expulsão do padre Vargas ocorre em um contexto de intensa repressão à Igreja Católica no país. Segundo Martha Patricia Molina, advogada e autora do relatório Nicarágua: Uma Igreja Perseguida?, o regime Ortega-Murillo realizou 870 ataques contra a Igreja entre 2018 e 2024. A perseguição inclui a prisão de bispos e sacerdotes, a dissolução de ordens religiosas e o confisco de propriedades e bens eclesiásticos.

Molina afirmou à EWTN Notícias que, frequentemente, os religiosos são presos sem justificativa clara. “Na Nicarágua, basta ser sacerdote para a ditadura considerar você uma ameaça e sequestrá-lo. Possivelmente, o padre Vargas fez algum comentário que o governo interpretou como hostil à revolução que eles dizem defender”, explicou.

O padre Vargas foi detido logo após celebrar uma missa em sua paróquia, em um ato que reflete o aumento da repressão contra a prática religiosa no país.

Exílio forçado

Embora as circunstâncias exatas de sua prisão não tenham sido esclarecidas, o destino do padre no Panamá foi confirmado por Mairena, que classificou o exílio como um “crime contra a humanidade”. A deportação, no entanto, pode ter evitado que Vargas fosse submetido às condições extremas enfrentadas por outros presos políticos na Nicarágua.

“É um alívio saber que ele não estará nas prisões do país, onde há relatos de mais de 40 métodos de tortura, além de tratamentos cruéis e degradantes”, disse Molina.

Solidariedade internacional

A expulsão do padre aconteceu no mesmo dia em que o Papa Francisco enviou uma mensagem de solidariedade aos católicos nicaraguenses, expressando preocupação com a repressão religiosa. Além disso, os bispos da América Central convocaram um dia de oração em 8 de dezembro, solenidade da Imaculada Conceição, em apoio aos fiéis e religiosos que sofrem perseguição no país.

A repressão contra a Igreja Católica na Nicarágua começou a se intensificar em 2018, quando o clero apoiou manifestações populares contra o governo devido às condições precárias de vida no país. Desde então, a ditadura de Ortega-Murillo tem endurecido suas ações contra qualquer forma de oposição, especialmente contra instituições religiosas que denunciam as violações de direitos humanos.

O caso do padre Vargas é mais um exemplo do clima de opressão enfrentado por líderes religiosos e comunidades católicas na Nicarágua, enquanto cresce a mobilização internacional por justiça e liberdade religiosa no país.

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