Violência entre torcidas leva MPPE a pressionar clubes e autoridades por medidas concretas
Na esteira da violenta confusão entre torcidas organizadas antes do clássico entre Santa Cruz e Sport, ocorrida no sábado (1º) e que resultou em 12 pessoas feridas e um caso de agressão e estupro, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) realizou uma reunião nesta segunda-feira (3) para discutir a gravidade da situação. O encontro reuniu representantes dos três grandes clubes do estado — Náutico, Sport e Santa Cruz —, a Federação Pernambucana de Futebol (FPF), a Secretaria de Defesa Social e o comando da Polícia Militar.
MPPE exige soluções imediatas
Presidindo a reunião, o Subprocurador-Geral de Justiça em Assuntos Institucionais, Renato da Silva Filho, afirmou que o MPPE quer uma solução construída de forma conjunta, envolvendo os clubes e a Federação. “A violência das torcidas organizadas é uma realidade antiga e preocupante. Este diálogo não significa abrir mão de investigações e medidas judiciais. Nosso compromisso é proteger o cidadão pernambucano, que não pode ficar refém de vândalos”, declarou.
Antônio Aroxelas, coordenador do Núcleo do Desporto e Defesa do Torcedor (Nudtor) do MPPE, destacou que as torcidas organizadas dos três grandes clubes já foram extintas por decisão judicial, mas continuam atuando sob novos nomes. “Os clubes não podem aceitar essas pessoas em suas festas, comemorações ou mesmo tirar fotos com elas”, disse ele, reforçando a obrigação dos clubes de banir as organizadas e apresentar um relatório ao MPPE sobre as providências adotadas.
Investigação do Gaeco
O coordenador do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), Roberto Brayner, confirmou que o grupo entrou nas investigações para auxiliar no combate à violência das torcidas. “Nosso objetivo é garantir que cenas de terror como as vistas neste sábado não se repitam e que os cidadãos possam transitar sem medo em dias de jogos”, afirmou.
Compromisso dos clubes e medidas propostas
Durante a reunião, os presidentes dos clubes Yuri Romão (Sport), Bruno Rodrigues (Santa Cruz) e Bruno Becker (Náutico) se comprometeram a intensificar o combate à violência, adotando medidas como a implementação de sistemas de reconhecimento facial e ingressos pessoais e intransferíveis para controlar o acesso aos estádios.
O presidente da FPF, Evandro Barros de Carvalho, sugeriu a adoção de torcida única em clássicos entre os três clubes e o bloqueio físico das áreas tradicionalmente ocupadas pelas organizadas.
Governo e Polícia Militar também endurecem o tom
O secretário estadual de Defesa Social, Alessandro Carvalho, destacou que o governo prioriza a segurança da população e defendeu medidas rigorosas contra os confrontos entre torcidas. O comandante da Polícia Militar, coronel Ivanildo Torres, reforçou que as torcidas organizadas devem perder qualquer tipo de apoio institucional ou financeiro dos clubes e que os envolvidos em atos de violência devem responder criminalmente.
Relembre o tumulto de sábado
Antes do clássico entre Santa Cruz e Sport, integrantes de torcidas organizadas entraram em confronto nas ruas do Recife, especialmente na região da Madalena, Zona Norte da capital. A confusão resultou em 12 pessoas feridas e 650 detidos preventivamente pela Polícia Militar.
Um dos casos mais graves foi o de um membro da Torcida Jovem do Sport, que foi agredido e estuprado enquanto estava desacordado. O crime chocou a opinião pública e levou as palavras “estupraram” e “Pernambuco” ao topo dos assuntos mais comentados nas redes sociais.
Repercussão política e medidas emergenciais
Tanto a governadora Raquel Lyra quanto o prefeito do Recife, João Campos, repudiaram os atos de violência e cobraram uma resposta rápida das autoridades. “Não podemos tolerar que o futebol, uma paixão popular, continue servindo de palco para crimes tão brutais”, afirmou a governadora.
Embora tenha reconhecido a gravidade dos incidentes, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Ivanildo Torres, destacou o trabalho da corporação em evitar uma tragédia ainda maior. “Graças aos nossos policiais, conseguimos evitar que o saldo de vítimas fosse muito mais grave. Agora, precisamos unir esforços para que isso não volte a acontecer.”
Com investigações em andamento e medidas prometidas pelas partes envolvidas, a esperança é que dias de jogos deixem de ser sinônimo de medo para os torcedores e moradores da região.